Cospe nas mãos – primeiro uma, depois outra – e esfrega-as uma nas outra. Olha em redor e fecha os olhos. Levanta os braços e volta a baixá-los. Junta os pés. Respira fundo. De expressão concentrada, ainda de olhos fechados, levanta os braços lentamente até que as mão sentem as pegas. Agarra-se e eleva-se. Por instantes, fica absolutamente imóvel no ar, antes das pernas começarem a curva para si próprio. Com o corpo fechado como um bicho de conta, roda até prefazer 360 perfeitos. Chega ao chão suavemente – os pés ainda juntos – pousando sem hesitações. Sobe a cabeça, o tronco, até as costas ficarem direitas. Respira fundo. Levanta os braços e volta a baixá-los e abre os olhos.
No autocarro, ninguém bate palmas.
29 agosto, 2007
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4 comentários:
Talvez os passageiros fossem todos juízes de concursos de ginástica e não gostaram da performance... Ou quiçá será o autocarro palco dos jogos olímpicos de Pequim?
Muito bom...
Na verdade, se tudo foi tão bonito e tão perfeito como (n)a descrição, então, ou os passageiros iam ainda ensonados e, portanto, anestesiados, ou, quem sabe, estariam mais preocupados noutras modalidades... em cima do cavalo, com as mão poisadas paralelamente e as pernas perpendiculares ao corpo, em ângulo recto, ou, ainda, graciosamente, com o corpo estendido para a frente, uma perna no chão e a outra esticada para trás no ar, um braço a apontar para o infinito em frente e o outro fazendo o mesmo na direção oposta, lembrando uma gazela a correr em todo o seu esplendor. E a porta do autocarro que teimava em não abrir para desentalar o pobre incompreendido...
...estavam todos tão absorvido no vidrado da sua vida interior, que o ginasta lhes pareceu apenas uma nuvem branca a cruzar os ares...a perfeição é, por vezes, apenas para os deuses...
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