28 junho, 2007

Boas vindas

Ela não faz nada. Eu também não. Olhamo-nos através do vidro, cada uma medindo o medo da outra. Ela dá uns passos atrás. Eu também. E desviamos o olhar, cada uma decidindo aceitar a outra. Ela finge ignorar-me enquanto tomo o pequeno-almoço. Eu finjo não observá-la a explorar o meu jardim.
Este é o primeiro hábito que ganho no regresso a Londres - e na casa nova –: ao acordar, abeirar-me do jardim e esperar pela raposa.

12 junho, 2007

de viagem

Peço desculpa pela falta de actualização das últimas semanas, mas tenho estado fora do Reino Unido e com pouco acesso à internet. O bay window voltará ao normal daqui a duas semanas, com o meu regresso a Londres.

04 junho, 2007

O pássaro cego

Para descobrir isto houve quem tenha feito estudos, descrições, experiências, manipulações, até provarem – na rádio, na BBC –: este pássaro que está a ouvir, explicava o locutor, é um homem, e este homem que ouve cantar, continuava, é, na realidade, um pássaro.
Eu sabia o mesmo (e com muito menos trabalho). Só tive que descer onde descem por vezes algumas pombas, mas raras. É no único lugar sem pássaros que o homem pode tomar o lugar dos pássaros. Tenho a impressão que se lhe perguntassem o que és, o cego do metro responderia pássaro. Só assim, esquecendo que é homem, poderia continuar com o seu assobio, apagado intermitentemente pelos comboios quando chegam, quando partem.