26 julho, 2007

horizonte

Em Londres nunca se vê o horizonte. Foi por isso que quando me deparei pela primeira vez com os homens de pedra, feitos (à sua imagem) por Antony Gormley, no topo dos edifícios, fiquei cheia de inveja.
Mais tarde voltei de propósito ao South Bank e a Waterloo, e andei de pescoço esticado a inspeccionar cada terraço, a examinar cada figura - mãos alinhadas com o corpo, a cabeça numa perpendicular perfeita, as costas a aplacar as nuvens -, a reconstituir cada olhar de pedra. Desta vez, fiquei com pena dos homens de pedra. Em Londres, não faz falta ver o horizonte.

18 julho, 2007

O gato

O gato é quase tão grande como a raposa. O gato e a raposa nunca visitam o jardim ao mesmo tempo.

11 julho, 2007

Peter O'Toole

Vi um homem extraordinariamente parecido ao Peter O'Toole. A mesma magreza, a mesma postura, o mesmo tom, as mesmas maçãs do rosto, os mesmos olhos azuis, mas cinzentos.
Saí atrás dele na plataforma, fui atrás dele nas escadas rolantes, segui-o por uma das seis saídas. Calçava sapatos de vela, vestia roupa que também seria adequada para um veleiro, e levava na mão uma mala de computador preta simples. Peter O'Toole podia vestir-se assim. Peter O'Toole até podia andar de metro.
Mas não era Peter O'Toole, e eu sabia. Por isso o segui: por não ser Peter O'Toole mas um homem normal. Perdi-o no topo das escadas, contra o céu.

05 julho, 2007

Primeira bomba em Londres

Uma pessoa nunca se perde sem razão, e eu andava perdida bem perto de casa. Até que dei com o Nevill Arms e uma placa azul - “primeira bomba em Londres”, li. E durante algum tempo, parada em frente ao pub fechado, esperei ver um zeppelin aparecer no céu.
Veio ameaçador – também belo até ser vergonhoso –, o próprio céu a mover-se.
92 anos, um mês e alguns dias depois, a imagem veio sem som. Tão perto da bomba que não se ouve rebentar.