28 março, 2007

London Fields

Estou prestes a ir à livraria mais perto de London Fields, na rua Broadway Market, para comprar o livro de Martin Amis que tem o nome deste parque no leste de Londres, London Fields. Não sei se devia.
London Fields era a segunda hipótese de título para este blogue; gosto do sítio e sobretudo, gosto do nome.
Literalmente, London Fields quer dizer campos de Londres. Agora, é um pequeno espaço verde, mas gosto de pensar que um dia se estendia a perder de vista. Que tudo isto eram campos virgens, que tudo isto estava por cultivar.
Gosto de pensar que houve um tempo em que os corvos não se comportavam como galinhas.
Tenham orgulho, portem-se como corvos, apetece dizer. Grasnem ameaçadoramente; sejam negros pelo coração, não pela penugem. Convivam com a morte, e evoquem-na: deixem augúrios como deixam pegadas. O mundo precisa de augúrios de todo o género.
Mas os corvos fogem a saltinhos de galinha assim que uma pessoa se aproxima. Bicam a terra como pedintes, estendem o bico implorante junto dos bancos. E misturam-se com as pombas, disputam com elas as migalhas.
Estes corvos não são da raça dos do Edgar Allan Poe.
Cada vez que observo os corvos gordos em London Fields, espero encontrar um que me remeta ao silêncio – sobre o qual só se possa escrever com reverência. Cada vez que vou a London Fields, espero encontrar um corvo que fale – e que seja escutado –, um sinal de mistério a contrastar na relva verde, a plantar-se na terra, nos campos de Londres.
Um dia ainda vou escrever sobre corvos em London Fields. Espero que o livro do Amis não tenha corvos.

4 comentários:

tomTraubert disse...

Esses corvos do Edgar Allan Poe (Ravens) estão em Lisboa :-) vieram com a barca do S. Vicente...e até há bem pouco tempo estavam no Castelo de S. Jorge. Bem bem conversadinho o Carmona Rodrigues vende-os de bom grado a Londres...

Anónimo disse...

Pois é, London Fields de Martin Amis... Um livro bom mas perigoso (pelo menos para quem gosta de aqui viver). Mostra bem a alma podre desta cidade e até que ponto é impiedosa. As personagens retratam tipos de pessoas que se encontram todos os dias nas ruas e por trás das caras bem compostas ou carrancudas nós nem percebemos... Tinha acabado de chegar a Londres quando peguei nesse livro. Já tinha passado de metade quando decidi que o melhor seria não continuar a ler. Prometi a mim próprio que apenas o terminaria na altura em que me fosse embora. Isto foi há mais de dez anos...

Unknown disse...

Engraçado o mundo dos encontros. Cada vez mais pequeno. Vai encolhendo, encolhendo, as ruas vão estreitando, as casas aproximando-se... até ficarmos janela com janela.
Tinha saudades de te ler. Principalmente as coisas que queres escrever. London Fields também seria o teu blogue. Mas Bay Window é mais... invulgar. É mais teu e dos que tiveram o privilégio de te ver à janela a olhar o mundo.
Curiosamente (Irlanda e Corvos) o novo espectáculo chama-se Doubt é de um dramaturgo de origem irlandesa chamado John Patrick Shanley e que usa o som dos corvos como tu quererias: pontuam o ambiente com desconfiança, autoridade e acima de tudo são uma voz da consciência. E não há outro medo como o de encontrar um corvo que te descubra as mentiras sem precisar de as provar. Um que te conheça todos os podres e constantemente te lembre que os conhece. Um grasnar do Inferno.
O teu blogue, perguntas? Refrescante e inquietante. Vou ser uma visita assídua por volta das 2 da manhã!
O teu fã... eh eh

Anónimo disse...

tona